Nessa nova história terapêutica, abordamos um dos temas mais instigantes de nossos dias: as frequentes manifestações de tédio em crianças e adolescentes. Esse problema, que tem se disseminado amplamente, tem sido encontrado em um grande número de casos em nossa clínica infanto-juvenil. Trata-se de um sintoma extremamente comum e que nos tem preocupado muito.
 
O tédio vem sendo pensado por muitos escritores, filósofos e outros estudiosos da natureza humana, mas não tem recebido a merecida atenção na área da psicologia. No entanto, alguns pesquisadores têm se dedicado a ele, trazendo algumas importantes contribuições. O tédio pode ser entendido como um estado mental específico, uma falta de vontade e de estímulo para qualquer atividade, uma sensação desagradável que leva à busca de alívio em comportamentos muitas vezes danosos, como comer excessivamente, cortar-se ou se drogar.
 
É espantoso observarmos crianças ou adolescentes, por vezes criados com muitas atenções e cuidados, serem dominados e paralisados por esse sentimento profundo de falta de sentido da vida, esse vazio de objetivos, que definimos como tédio. Parece que, para eles, a vida perdeu o sentido e o significado, podendo ser desprezada e mesmo abandonada a qualquer momento e por qualquer razão banal.
 
Devemos buscar compreender e combater esse fenômeno, cada dia mais presente, nesse mundo de tantas oportunidades e facilidades, ao mesmo tempo que, por isso mesmo, causador de tantas perplexidades e dificuldades na definição de um objetivo de vida. Para combater essa desagradável vivência do tédio, crianças e adolescentes podem buscar compulsivamente novas experiências, mesmo que se exponham a riscos perigosos e desnecessários.
 
O excesso de uso dos diferentes tipos de telas – celulares, tablets e computadores – com seus incrivelmente atrativos e viciantes jogos, mídias sociais e vídeos de todos os tipos, pode contribuir para uma busca frenética por prazeres imediatos e insaciáveis. As crianças não têm a oportunidade, nesse contexto de estímulos prazerosos e imediatos, de aprender a ter paciência, a lutar por algo que queiram, a envidar esforços para alcançar objetivos. Querem tudo agora, ou se entediam!
 
Buscar formas de ajudar as famílias, suas crianças e adolescentes, a desenvolverem objetivos de vida e voltarem a dar valor a suas existências e à natureza na qual vivemos, é fundamental nesse momento. Vivemos uma crise de valores, uma geral falta de perspectiva e de sentido para nossa existência no mundo. Valores que eram providos pelas religiões ou pelo sentimento de pertencer a uma nação ou desejar transformar o mundo, hoje não estão mais presentes, criando-se uma espécie de vácuo de sentido para a vida.
 
A história "O Enigma do Tédio: em Busca da Diversão Perdida” propõe-se a trazer um debate sobre esse tema tão relevante e desafiador. Esperamos que possa ser útil para auxiliarmos tantas crianças e adolescentes entediados que estão passando pela existência sem poder perceber sua beleza e seu profundo valor. Pois a vida é, acima de tudo, um presente que recebemos, único e de valor inestimável, devendo ser cuidada e preservada como algo muito especial.